Sergipanidade...e a tal
identidade?
Mesalas
Santos
Este
pequeno fragmento textual é um ataque direto aos meios de comunicação do estado sergipano
e seu modo letárgico mercadológico na intenção de ressurgir a suposta sergipanidade.
A mídia sergipana (rádio,
escrita e televisiva) para lidar com a fragmentação do presente, busca um
passado perdido, ordenado por lendas e paisagens, por histórias de eras de
ouro, antigas tradições, por fatos heróicos e destinos dramáticos.
Desmembrando o conteúdo
veiculado pelos meios de comunicação de Sergipe, em geral, temos: os canais
televisivos abertos, com a sua grade de programação infinitamente defasada, seus
programas jornalísticos, dando cobertura ora aos buracos das ruas da Grande
Aracaju, ora ao assistencialismo de auto-promoção dos empresários sergipanos em
eventos festivos; a imprensa escrita promove a tríade preferida de notícias – àquela
que respingar maior quantidade de sangue no leitor na capa jornalesca, apoiar
os conchavos politiqueiros da sociedade sergipana e alimentar a futilidade das socialites aracajuanas; e por fim, o
rádio está mais preocupado por um lado, em traçar a sergipanidade a partir da moda multicultural e, por outro, a
promoção de bandas que fazem parte do grupo político dirigente.
Então, mais do que
objetos de políticas, a comunicação e a cultura em Sergipe constitui hoje um
campo de batalha política. O estratégico cenário que exige que a política
recupere sua dimensão simbólica – sua capacidade de representar o vinculo entre
os cidadãos sergipanos, e o sentimento de pertença – para enfrentar a erosão da
vida coletiva.
Que é o que o mercado
(empresas controlando as políticas culturais do Estado) não pode fazer por mais
eficaz que seja seu simulacro de sergipanidade.
O mercado não pode sedimentar tradições, pois tudo o que produz desmancha no ar devido a sua tendência
estrutural a uma obsolescência acelerada e generalizada não somente das coisas,
mas também das formas e das instituições.
O mercado não pode
criar vínculos societários, isto é, entre sujeitos, pois estes constituem nos
processos de comunicação de sentido, e o mercado opera anonimamente mediante
lógicas de valor que implicam trocas puramente formais, associações e promessas
evanescentes que somente engendram satisfações e frustrações, nunca, porém,
sentido.
A afirmação política
das identidades exige alguma forma de autenticação, que geralmente é feita por
meio de reivindicação da história de um determinado grupo cultural.
Contextualizando para a nossa realidade, existe uma verdade histórica única de
nossa identidade que pode ser recuperada? Pensemos nas representações que a
mídia faz desse presumido e autêntico passado. Há um passado sergipano
autêntico e único que possa ser utilizado para sustentar e definir a sergipanidade? Sem contar que pode haver
diferentes histórias dessa sergipanidade.
Existem duas formas diferentes de se pensar a
identidade cultural. A primeira sofre reflexo em que uma determinada comunidade
busca recuperar a “verdade” sobre seu passado na “unicidade” de uma história e
de uma cultura partilhadas que poderiam, então, ser representadas, por exemplo,
em uma forma cultural, sobretudo sob a ênfase dos meios de comunicação.
A segunda concepção de
identidade cultural é aquela que a vê como uma questão tanto de torna-se quanto
de ser. Isso não significa negar a identidade tenha um passado, mas reconhecer
que, ao reivindicá-la, nós a reconstruímos e que, além disso, o passado sofre
constante transformação.
Portanto, argumento em
favor que o reconhecimento da identidade sergipana não esteja fixada na rigidez
da oposição binária, tal como as dicotomias nós/eles. É preciso entender quem e
o que nós representamos quando falamos. O sujeito fala, sempre a partir de uma
posição histórica e cultural específica. O passado e o presente exercem um
importante papel nesses eventos. A contestação no presente busca justificação
para a criação de novas e futuras identidades, evocando origens, mitologias e
fronteiras do passado.
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