quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sergipanidade...e a tal identidade?

Mesalas Santos


Este pequeno fragmento textual é um ataque direto aos meios de comunicação do estado sergipano e seu modo letárgico mercadológico na intenção de ressurgir a suposta sergipanidade.

 A mídia sergipana (rádio, escrita e televisiva) para lidar com a fragmentação do presente, busca um passado perdido, ordenado por lendas e paisagens, por histórias de eras de ouro, antigas tradições, por fatos heróicos e destinos dramáticos.
Desmembrando o conteúdo veiculado pelos meios de comunicação de Sergipe, em geral, temos: os canais televisivos abertos, com a sua grade de programação infinitamente defasada, seus programas jornalísticos, dando cobertura ora aos buracos das ruas da Grande Aracaju, ora ao assistencialismo de auto-promoção dos empresários sergipanos em eventos festivos; a imprensa escrita promove a tríade preferida de notícias – àquela que respingar maior quantidade de sangue no leitor na capa jornalesca, apoiar os conchavos politiqueiros da sociedade sergipana e alimentar a futilidade das socialites aracajuanas; e por fim, o rádio está mais preocupado por um lado, em traçar a sergipanidade a partir da moda multicultural e, por outro, a promoção de bandas que fazem parte do grupo político dirigente.
Então, mais do que objetos de políticas, a comunicação e a cultura em Sergipe constitui hoje um campo de batalha política. O estratégico cenário que exige que a política recupere sua dimensão simbólica – sua capacidade de representar o vinculo entre os cidadãos sergipanos, e o sentimento de pertença – para enfrentar a erosão da vida coletiva.
Que é o que o mercado (empresas controlando as políticas culturais do Estado) não pode fazer por mais eficaz que seja seu simulacro de sergipanidade. O mercado não pode sedimentar tradições, pois tudo o que produz desmancha no ar devido a sua tendência estrutural a uma obsolescência acelerada e generalizada não somente das coisas, mas também das formas e das instituições.
O mercado não pode criar vínculos societários, isto é, entre sujeitos, pois estes constituem nos processos de comunicação de sentido, e o mercado opera anonimamente mediante lógicas de valor que implicam trocas puramente formais, associações e promessas evanescentes que somente engendram satisfações e frustrações, nunca, porém, sentido.
A afirmação política das identidades exige alguma forma de autenticação, que geralmente é feita por meio de reivindicação da história de um determinado grupo cultural. Contextualizando para a nossa realidade, existe uma verdade histórica única de nossa identidade que pode ser recuperada? Pensemos nas representações que a mídia faz desse presumido e autêntico passado. Há um passado sergipano autêntico e único que possa ser utilizado para sustentar e definir a sergipanidade? Sem contar que pode haver diferentes histórias dessa sergipanidade.
 Existem duas formas diferentes de se pensar a identidade cultural. A primeira sofre reflexo em que uma determinada comunidade busca recuperar a “verdade” sobre seu passado na “unicidade” de uma história e de uma cultura partilhadas que poderiam, então, ser representadas, por exemplo, em uma forma cultural, sobretudo sob a ênfase dos meios de comunicação.
A segunda concepção de identidade cultural é aquela que a vê como uma questão tanto de torna-se quanto de ser. Isso não significa negar a identidade tenha um passado, mas reconhecer que, ao reivindicá-la, nós a reconstruímos e que, além disso, o passado sofre constante transformação.
Portanto, argumento em favor que o reconhecimento da identidade sergipana não esteja fixada na rigidez da oposição binária, tal como as dicotomias nós/eles. É preciso entender quem e o que nós representamos quando falamos. O sujeito fala, sempre a partir de uma posição histórica e cultural específica. O passado e o presente exercem um importante papel nesses eventos. A contestação no presente busca justificação para a criação de novas e futuras identidades, evocando origens, mitologias e fronteiras do passado.




Nenhum comentário:

Postar um comentário