segunda-feira, 24 de janeiro de 2011




Fotografia e Antropologia
Mesalas Santos

 Desde a sua criação, a fotografia sempre esteve ao lado da antropologia, pode-se dizer que foi amor à primeira vista, como se costuma dizer, um romance de sucesso que taz resultados importantes. No século XVIII, o registro de sítios arqueológicos através do uso da fotorafia tornou-se uma interessante abordagem científica, porque antes os materiais utilizados baseavam-se em desenhos que poderiam ser fruto de imaginação, facilmente corrompido pela forma como o artista percebe a realidade, enquanto a fotografia supõe-se captar a realidade como ela é.
Para o final do século XIX, a fotografia se espalhou para outros ramos da antropologia. No caso da fotografia etnográfica, um de seus primeiros exemplos foi John K. Hillers, que em 1870 foi contratado pelo Departamento de Etnologia Americana para fotografar várias tribos do sudeste dos Estados Unidos (Banta e Hinsley, 1986:40). Em 1880, a antropóloga Alice Fletcher trabalhou para o Museu Peabody e tirou fotos dos índios Omaha Sioux de Nebraska e Dakota.
Em 1886, Franz Boas, começou o trabalho de campo entre o grupo Kwakiutl ao largo da costa noroeste da América do Norte. Mas apesar da importância de suas informações, não dúvida da insuficiência das fotografias como produto de muitos anos de pesquisa. O potlatch, uma cerimônia tão complexa e rica em tradições, crenças, foi pouco refletida, explorada, em algumas das fotografias que ilustram seus textos.
No início da década de 20, Malinowski realizou pesquisas na Melanésia. Como parte deste trabalho também têm uma série de fotografias que ilustram certas características e atividades da vida Trobriandesa. Mas, apesar do reconhecimento que merece o rigor etnográfico de Malinowski em seu trabalho, podemos ver semelhante falta como em Boas. Com absoluta certeza, o foco desses excelentes etnógrafos na utilização da fotografia em suas pesquisas serviu apenas como um meio para ilustrar a descrição etnográfica.
A fotografia é uma ferramenta útil para o antropólogo e é um elemento quase imprescindível nos trabalhos do campo. É muito valiosa para a análise, e uma fonte de informação em primeira mão para a pesquisa, objetos de análise de documentos e consultas, em vez de serem utilizadas apenas para ilustrar os trabalhos. Nesta época do uso e abuso da imagem, os interessados em áreas da ciências humanas, como a história social, antropologia, sociologia, etc., não podem ignorar o conhecimento e análise do que vemos através do tratamento da fotografia como documento.
As fotografias são objetos de leitura e interpretação. A fotografia, assim como outros documentos, contém as mensagens, só que eles são em forma gráfica, por isso precisamos de um método de interpretação que permite ler ou interpretar a imagem. Para fazer isso existem duas escolas: a ideológica e semiótica. A perspectiva ideológica critica a suposta neutralidade e objetividade das imagens e sua seleção, produção e divulgação de acordo com determinadas práticas e costumes sociais. A perspectiva semiótica argumenta que a fotografia, assim como qualquer outra expressão gráfica são "textos" cheia de códigos e mensagens, significantes e significados, que exibem um jogo entre denotação e conotação através do qual os significados são atribuídos.
A fotografia não é simplesmente uma cópia da realidade visível, nem uma réplica fiel da percepção humana, mas uma representação altamente convencional. O trabalho fotográfico não se move no campo da verdade, mas da verossimilhança, pois quem pode afirmar com absoluta certeza que uma imagem de um grupo de soldados que estão segurando suas armas, é uma luta ou um ato de formação? A verdade da imagem não está contida na foto, depende do conhecimento do contexto. Qualquer discussão sobre a ideologia de uma mensagem fotográfica devemos considerar a teia de relações que tornam inteligíveis. Dessa forma, toda a comunicação fotográfica deve considerar a relação entre o que o autor quer dizer, os recursos lingüísticos de seu ambiente e os códigos de credibilidade e capacidade de leitura de seus receptores.

Bibliografia Consultada:
BANTA, Melissa y HINSLEY, Curtis. From Site to Sigth: Anthropology, Photography, and the Power of Imagery. Cambridge, Massachusetts, 1986.
GARCÍA, Néstor. “Fotografía e ideología: sus lugares comunes” En: Hecho en Latinoamérica, México, Instituto Nacional de Bellas Artes, 1982.
HERNÁNDEZ, Octavio. “La fotografía como técnica de registro etnográficoEn: Cuicuilco, núm. 13, mayo-agosto de 1988, pp. 31-52.



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