ACÉDIA
Marcelo
Primo
Não espero nada dos outros, tampouco de mim,
Não pedi para nascer, e vou ter um fim,
Solilóquios comigo mesmo, como um Anarca,
Ó viver, tarefa árdua...como uma eterna
ressaca.
Na trilha de Jünger,
Mäinlander e Cioran,
Conviver, dialogar...
tornou-se um vazio afã,
Tento louvar a vida, mas a
vida não se afirma,
O Nada se esparrama, de baixo
a cima.
Sigo meus passos, pleno de
vazio,
A acédia perpassa-me, como um
rio,
Espraiando-se em um desejo de
nada desejar...
Projetos de vida cheiram a non-sense,
Abdico, já que nada a mim
pertence,
Como um lobo da estepe, só me
resta vagar...
ESPIRAL
Marcelo Primo
Uma vez tentado o incurso às
margens dessa mesmice latente,
È inevitável o embate com a
espiral da existência, a mim presente...
Fazendo-me circular e
circular, procurando sentido a esmo,
Anúncio de um fim deveras
conhecido, o enfadonho retorno do mesmo...
Suficiente já é uma olhada en passant à minha volta,
Floresce a verve, inflamada
pela angústia, asco, revolta...
Mas a espiral age pelas
entranhas, hic et nunc,
fisiologicamente,
Labirintite do real, giros e
mais giros, sucessivamente...
È possível fincar-se na
razão, diante das vertigens mundanas?
Diante da descarada letargia,
que aí está deixando mentes insanas...?
Ser, estar... é como lançar
uma diatribe a um absurdo quixotesco,
Com a morte na alma é dizer
pouco deste estado espúrio, grotesco...
Volto, vacilante, perpassando
mais uma volta dentro da espiral,
Trajeto sinuoso, tortuoso,
que sempre conduz ao mesmo final...
Ora, mas que é esse fim senão
um começo? O mesmo ponto de partida
Que encontro em todos os
lugares e momentos, não havendo saída...