Carrum Navalis
Mesalas Santos
A festa momesca que
ocorre todos os anos no nosso país, surge como um dos grandes símbolos
culturais nacional. É comum associarmos que este bem cultural é produto
genuinamente da cultura brasileira. No entanto, para decepção daqueles
nacionalistas fervorosos não existe com precisão a noção exata de quando e nem
como surgiu o carnaval
Existem alguns indícios
que procuram responder estas indagações: a) povos que habitavam as margens do
rio Nilo, no Egito, por volta de 4.000 a.C. são considerados como os primeiros
a praticar a agricultura e celebrar através de ritos agrários. Danças, cantos,
máscaras e pinturas corporais eram elementos utilizados para saudar a chegada
da primavera e espantando as forças impresumíveis que prejudicavam o plantio;
b) o carnaval pagão teria surgido por
volta de 605 a.C. e 527 a.C. durante o reinado de Pisistrato, em Atenas, onde o
culto a Dionísio – deus das festas, vinho e da pândega – era incentivado com
desfiles e cortejo de mascarados pelas ruas de Atenas celebrando o casamento do
deus com a Pólis; c) o culto ao deus Baco, por volta de 370 a.C. em Roma, era
celebrado pelas bacantes, sacerdotisas que saiam as ruas cantando, dançando
lascivamente, achincalhando os transeuntes. Somente no ano de 590 d.C. ocorre a
oficialização do carnaval, que viria a adquirir suas características básicas –
como o uso de fantasias, máscaras e carros alegóricos – na Renascença.[1]
Seja
como for, a festa
no Brasil tem especificidades desde o princípio da colonização, como
aponta Rita Amaral (2000),
tendo sido para cá
transplantada pelos colonizadores invasores do período
colonial, que fizeram dela entre outros, instrumento de inserção
dos portugueses, catequização dos índios
e negros e tornou menos
difícil a vida
num lugar estranho,
com um
meio ambiente
desconhecido e por
vezes hostil.
Como não
podia deixar de ser, todos acresceram sua
parcela de símbolos,
enriquecendo-a.
Para
se moldar à realidade
multicultural brasileira a festa européia foi sofrendo grandes
transformações, não apenas
dos aspectos mais
formais, mas
também de sentido,
sendo uma festa ao mesmo
tempo lúdica,
transgressora e utópica. Alguns autores
frequentemente, tratam a festa como linguagem
e seus elementos como
termos de comunicação
que qualificam, atribuem sentido e movimento.
Objeto predileto de
antropólogos, o carnaval brasileiro
foi observado sob a ótica do ritual de inversão, onde as hierarquias
por alguns
momentos se apagam: o pobre fantasia-se de príncipe,
o homem de mulher
e assim por
diante. O indivíduo
não desaparece no grupo, pois, segundo Da Matta (1978: 93),
“o projeto
da sociedade brasileira,
com suas
regras e seus
ritos, é o de dissolver
e fazer desaparecer o
indivíduo”.
No carnaval, contrariando o projeto social,
as leis são
mínimas: "É o folião que conta. É o folião que decidirá de que
modo irá “brincar o carnaval”
(115).
Contrariamente à ideia de destruição, que perpassa as teorias sobre o carnaval, a festa à brasileira
tem caráter positivo,
afirmativo.
Vale
ressaltar que gestos
e palavras são
apenas uma porta
para penetrarmos o significado
que se oculta por
trás do carnaval. No entanto, apresenta
algumas características que não condizem com o regozijo destilado nos seus dias:
crianças, idosos, pessoas curvadas, corcundas olhando a festa para baixo, sujeitas
a relação metal-peso-valor-sobrevivência; a hierarquia da festa; o abuso sexual
de menores; a corrupção fardada; a exploração turística e muitos outros que vocês,
caros leitores, com certeza diriam neste espaço.
[1] A origem da palavra carnaval
gera divergência entre os estudiosos. Há quem sustente que o termo vem de carrum navalis, os carros usados nas
procissões em homenagem a Dionísio na Grécia. Porém alguns pesquisadores
afirmam que a palavra surgiu a partir da expressão dominica ad carne levandas, usada por Gregório I, o Grande, em 590
d.C., para se referir ao sétimo domingo que precede a Páscoa.Esta expressão –
que significa “tirar a carne” e está ligada aos sacrifícios da Quaresma – teria
sido sucessivamente abreviada para carne
levandas, carne levale, carne levamen, e finalmente carnaval.
ARAÚJO, 2003.
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