segunda-feira, 10 de janeiro de 2011



                      A separação desigual do Encontro Cultural de Laranjeiras/SE. 
Mesalas Santos


O Encontro Cultural de Laranjeiras/SE, ocorrido entre os dias 06 e 09 de janeiro de 2011 atraiu pesquisadores, brincantes, artistas, gestores e estudantes no intuito de compreender, promover e se extasiar da abastada e pulsante cultura popular sergipana.
A sua XXXVI edição trouxe o tema Patrimônio Imaterial e a era digital com o intuito de discutir ações dos meios e ferramentas do mundo digital na proteção, promoção e salvaguarda do patrimônio imaterial através da educação patrimonial e fortalecimento da diversidade.
Embora a meta do evento fosse promover o diálogo entre a tradição e a inovação em busca da transversalidade, do pluralismo e da interculturalidade existiu um grande desacerto entre este objetivo e como o a cultura popular é entendida pelos que coordenam o encontro. A superficialidade das apresentações dos palestrantes no simpósio, de modo geral, privilegiaram atenção às várias formas de acesso da era digital, deixando de fora questões pertinentes aos usos indevidos da tecnologia ao bem cultural; direitos autorais na cultura popular; formas de empreendedorismo no setor da cultura; a apropriação indevida/deturpada dos meios de comunicação na divulgação de um bem cultural; o aprendizado das novas tecnologias pelos novos brincantes; a massificação da cultura dentro do encontro cultural; criação de banco de dados sobre a cultura de Laranjeiras e de livre acesso.
A morosidade maquiada da gestão cultural local não percebeu que anda na contramão do tempo, pois apóiam, ano a ano, a pausterização mecânica do mass media através de shows com toda a estrutura e aparelhagem necessária para a sua débil execução. O montante de recursos utilizados na contratação de grandes artistas da música pop nacional se torna um obstáculo ao desenvolvimento da cultura popular local, pois estes shows estão baseados na fragilidade do efêmero, escondendo reais conflitos que afetam todos os indivíduos.
Este forte apelo da indústria cultural reverbera do outro lado do rio Cotinguiba, precisamente no Largo do Quaresma, local do palco Dona Lalinha, ilustre mestre do Reisado. Este espaço fica destinado às atrações que se “enquadram” na denominada cultura popular, realmente aquilo que mais importa no encontro cultural de Laranjeiras e que não dão o devido respeito.
Apenas um acanhado palco para as diversas atrações folclóricas tanto do estado quanto do Brasil, causou atraso na programação. A ausência de um espaço adequado para acomodar os grupos folclóricos que se apresentaram foi sentida no reclame de uma brincante do samba de coco de Laranjeiras ao lembrar em voz alta no microfone que merecia respeito. Vale lembrar que em sua maioria os integrantes são idosos e ficaram horas aguardando ao relento o horário de suas apresentações.
Acredito que o peso desigual que os gestores públicos da cidade de Laranjeiras deram a cultura de massa no evento sufocou a as manifestações populares locais, a memória longa, a pluralidade de vozes que aspiram a inscrever suas histórias e os símbolos coletivos mais estáveis. Dessa forma, as inúmeras tradições populares passam pelo filtro de homogeneização e simplificação dos meios massivos de comunicação para alcançar uma influência além de seu local de origem ou permanecem confinadas no estado de origem.

Um comentário:

  1. Mesalas,

    Presenciamos juntos esta sequência de atrasos nas apresentações dos grupos e falta de respeito com os mesmos.
    Quero registrar que o grupo de maracatu a se apresentar naquela noite foi belíssimo. No entanto, seus integrantes estavam a esperar por mais de 5 horas para fazer a sua apresentação.
    Fiquei indignada ao ver aquelas pessoas sentadas no meio-fio das calçadas, e algumas em pé, por conta da fantasia que não as permitia se quer sentar. Estava estampado no rosto de cada uma delas a indignação por tanta falta de respeito.
    E, infelizmente, esse sentimento não foi privilégio deste grupo, mas da maioria dos que subiram ao palco naquela noite.

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