A separação desigual do Encontro Cultural de Laranjeiras/SE.
Mesalas Santos
O Encontro Cultural de Laranjeiras/SE,
ocorrido entre os dias 06 e 09 de janeiro de 2011 atraiu pesquisadores,
brincantes, artistas, gestores e estudantes no intuito de compreender, promover
e se extasiar da abastada e pulsante cultura popular sergipana.
A sua XXXVI edição trouxe o tema Patrimônio
Imaterial e a era digital com o intuito de discutir ações dos meios e
ferramentas do mundo digital na proteção, promoção e salvaguarda do patrimônio
imaterial através da educação patrimonial e fortalecimento da diversidade.
Embora a meta do evento fosse promover o
diálogo entre a tradição e a inovação em busca da transversalidade, do
pluralismo e da interculturalidade existiu um grande desacerto entre este
objetivo e como o a cultura popular é entendida pelos que coordenam o encontro. A superficialidade das apresentações dos
palestrantes no simpósio, de modo geral, privilegiaram atenção às várias formas de acesso
da era digital, deixando de fora questões pertinentes aos usos indevidos da
tecnologia ao bem cultural; direitos autorais na cultura popular; formas de
empreendedorismo no setor da cultura; a apropriação indevida/deturpada dos
meios de comunicação na divulgação de um bem cultural; o aprendizado das novas
tecnologias pelos novos brincantes; a massificação da cultura dentro do
encontro cultural; criação de banco de dados sobre a cultura de Laranjeiras e
de livre acesso.
A morosidade maquiada da gestão cultural
local não percebeu que anda na contramão do tempo, pois apóiam, ano a ano, a
pausterização mecânica do mass media através de shows com toda a
estrutura e aparelhagem necessária para a sua débil execução. O montante de
recursos utilizados na contratação de grandes artistas da música pop nacional
se torna um obstáculo ao desenvolvimento da cultura popular local, pois estes
shows estão baseados na fragilidade do efêmero, escondendo reais conflitos que
afetam todos os indivíduos.
Este forte apelo da indústria cultural
reverbera do outro lado do rio Cotinguiba, precisamente no Largo do Quaresma,
local do palco Dona Lalinha, ilustre mestre do Reisado. Este espaço fica
destinado às atrações que se “enquadram” na denominada cultura popular,
realmente aquilo que mais importa no encontro cultural de Laranjeiras e que não
dão o devido respeito.
Apenas um acanhado palco para as diversas
atrações folclóricas tanto do estado quanto do Brasil, causou atraso na
programação. A ausência de um espaço adequado para acomodar os grupos
folclóricos que se apresentaram foi sentida no reclame de uma brincante do
samba de coco de Laranjeiras ao lembrar em voz alta no microfone que merecia
respeito. Vale lembrar que em sua maioria os integrantes são idosos e ficaram
horas aguardando ao relento o horário de suas apresentações.
Acredito que o peso desigual que os
gestores públicos da cidade de Laranjeiras deram a cultura de massa no evento
sufocou a as manifestações populares locais, a memória longa, a pluralidade de
vozes que aspiram a inscrever suas histórias e os símbolos coletivos mais
estáveis. Dessa forma, as inúmeras tradições populares passam pelo filtro de
homogeneização e simplificação dos meios massivos de comunicação para alcançar
uma influência além de seu local de origem ou permanecem confinadas no estado
de origem.
Mesalas,
ResponderExcluirPresenciamos juntos esta sequência de atrasos nas apresentações dos grupos e falta de respeito com os mesmos.
Quero registrar que o grupo de maracatu a se apresentar naquela noite foi belíssimo. No entanto, seus integrantes estavam a esperar por mais de 5 horas para fazer a sua apresentação.
Fiquei indignada ao ver aquelas pessoas sentadas no meio-fio das calçadas, e algumas em pé, por conta da fantasia que não as permitia se quer sentar. Estava estampado no rosto de cada uma delas a indignação por tanta falta de respeito.
E, infelizmente, esse sentimento não foi privilégio deste grupo, mas da maioria dos que subiram ao palco naquela noite.