Para quem
acha que racismo não existe
Maíra Kubík
Há quem diga que racismo não
existe no Brasil; que o país é tão misturado que apenas 6% da população é
negra, ou seja, uma minoria absoluta – desconsiderando a noção histórico,
político-étnica de afrodescendência. Tal conclusão felizmente não permaneceu
impune e foi questionada de maneira brilhante e irônica pelo cartunista Arnaldo
Branco, entre outros:
Além desta elaboração,
outra teoria – a mais aceita pós Gilberto Freyre – é a de que vivemos um
racismo velado, em especial quando comparado aos Estados Unidos. Enquanto
mascaramos o preconceito com a imagem de um país feliz, harmônico e unido por
samba, cerveja e futebol, lá a separação forçada de espaços físicos há até
muito pouco tempo deixou os problemas bem mais evidentes e trouxe à tona a
herança escravagista.
Mas pelo menos dois episódios recentes discordam, em certa medida, das
hipóteses acima e apontam que o racismo não só existe no Brasil, como ele é muitas
vezes óbvio. O primeiro é o do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que ao
participar do programa CQC, da Bandeirantes, falou absurdos para a
apresentadora e cantora – negra – Preta Gil. Saudosista da ditadura militar,
Bolsonaro já havia destilado seu preconceito também contra gays, o que
infelizmente, na lei, não é uma violação equivalente ao crime de racismo.
O segundo exemplo é a
nova propaganda da cerveja Devassa. Não satisfeita em ver retirado do ar seu
comercial com Paris Hilton, a marca mais uma vez opta por divulgar uma imagem
estereotipada e distorcida da mulher. Agora ela não é loira e
"oferecida", mas negra, "porque negra se reconhece pelo
corpo". Além de utilizar peitos e bunda para vender bebida, a
propaganda faz uma distinção sexual que traz a mulher negra como um objeto. Um
mero corpo a ser possuído.
As mulheres negras são, sem
dúvida, grandes prejudicadas deste nosso mundo contemporâneo supostamente
desenvolvido. Se as brancas já sofrem no mercado de trabalho, recebendo menos
para ocupar o mesmo cargo que homens, as negras são ainda mais desvalorizadas.
Elas também estão entre as mais pobres, são mães cedo e têm menos oportunidades
de virar a mesa. E quando chegam ao topo, como Preta Gil, ainda ouvem desaforos
que desqualificam toda a sua hereditariedade por alguém que se sente "no
direito" de "ser superior".
Racismo não existe no Brasil? Faz-me rir.
FONTE: http://viva.mulher.blog.uol.com.br/arch2011-03-16_2011-03-31.html#2011_03-30_15_32_57-132652156-0
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