domingo, 3 de abril de 2011


Para quem acha que racismo não existe
Maíra Kubík

Há quem diga que racismo não existe no Brasil; que o país é tão misturado que apenas 6% da população é negra, ou seja, uma minoria absoluta – desconsiderando a noção histórico, político-étnica de afrodescendência. Tal conclusão felizmente não permaneceu impune e foi questionada de maneira brilhante e irônica pelo cartunista Arnaldo Branco, entre outros:

Além desta elaboração, outra teoria – a mais aceita pós Gilberto Freyre – é a de que vivemos um racismo velado, em especial quando comparado aos Estados Unidos. Enquanto mascaramos o preconceito com a imagem de um país feliz, harmônico e unido por samba, cerveja e futebol, lá a separação forçada de espaços físicos há até muito pouco tempo deixou os problemas bem mais evidentes e trouxe à tona a herança escravagista.
Mas pelo menos dois episódios recentes discordam, em certa medida, das hipóteses acima e apontam que o racismo não só existe no Brasil, como ele é muitas vezes óbvio. O primeiro é o do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que ao participar do programa CQC, da Bandeirantes, falou absurdos para a apresentadora e cantora – negra – Preta Gil. Saudosista da ditadura militar, Bolsonaro já havia destilado seu preconceito também contra gays, o que infelizmente, na lei, não é uma violação equivalente ao crime de racismo.
 
O segundo exemplo é a nova propaganda da cerveja Devassa. Não satisfeita em ver retirado do ar seu comercial com Paris Hilton, a marca mais uma vez opta por divulgar uma imagem estereotipada e distorcida da mulher. Agora ela não é loira e "oferecida", mas negra, "porque negra se reconhece pelo corpo". Além de utilizar peitos e bunda para vender bebida,  a propaganda faz uma distinção sexual que traz a mulher negra como um objeto. Um mero corpo a ser possuído.
As mulheres negras são, sem dúvida, grandes prejudicadas deste nosso mundo contemporâneo supostamente desenvolvido. Se as brancas já sofrem no mercado de trabalho, recebendo menos para ocupar o mesmo cargo que homens, as negras são ainda mais desvalorizadas. Elas também estão entre as mais pobres, são mães cedo e têm menos oportunidades de virar a mesa. E quando chegam ao topo, como Preta Gil, ainda ouvem desaforos que desqualificam toda a sua hereditariedade por alguém que se sente "no direito" de "ser superior".
Racismo não existe no Brasil? Faz-me rir.

FONTE: http://viva.mulher.blog.uol.com.br/arch2011-03-16_2011-03-31.html#2011_03-30_15_32_57-132652156-0

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